quinta-feira, 26 de julho de 2012

Série Migração: o fenômeno migratório no Brasil - Parte 3

A migração interna no Brasil

B) Migração Pendular


As migrações pendulares são os movimentos diários que envolvem o vaivém dos trabalhadores de sua residência até o trabalho ou serviço, normalmente localizado longe da moradia. Esse tipo de movimento envolve, portanto, a saída dos trabalhadores durante o dia da cidade onde mora para uma outra cidade, geralmente uma metrópole (grande cidade) onde trabalha.


Por exemplo, na região metropolitana de Belo Horizonte, há municípios como Ribeirão das Neves e Santa Luzia, que apresentam uma boa parcela de sua população trabalhando em Belo Horizonte. Isso significa que na maior parte do dia essas pessoas estão na capital mineira e só retornam à sua cidade no final da tarde, início da noite, para repousar e dormir. No dia seguinte, todo o processo ocorre novamente.

Esse tipo de cidade (como Santa Luzia e Ribeirão das Neves) que apresenta uma grande parte de sua população trabalhadora exercendo atividades em outro município, é chamada de cidade-dormitório.

O grande problema desse tipo de migração é o transporte (ônibus, trem, metrô), já que o transporte coletivo no Brasil há muito tempo vem sendo deixado em segundo plano, já que se dá prioridade ao automóvel particular. As camadas de renda mais baixa sofrem intensamente com esse problema: conduções precárias, altos preços das passagens, atrasos freqüentes, superlotação dos ônibus, trens e metrôs. Em alguns centros urbanos brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e até Belo Horizonte, é comum haver pessoas que gastam três ou quatro horas por dia nesse movimento de vaivém pendular.


Situação hipotética retratando uma migração pendular



Maria é uma dona batalhadora. Todo dia ela acorda às quatro e meia da manhã e sai às cinco horas para trabalhar em Belo Horizonte. Na verdade, Maria mora em Ribeirão das Neves, município da região metropolitana da capital mineira, e como não tem muito emprego naquela cidade, vai para a metrópole trabalhar e só volta à noite. Ela chega em casa de volta quase às vinte e uma horas e no outro dia começa tudo de novo.

Série Migração: O fenômeno migratório no Brasil - Parte 2

A migração interna no Brasil



As migrações internas, entre áreas ou regiões do Brasil vêm ocorrendo desde a época colonial, embora tenham se intensificado a partir do século XX, notadamente, na segunda metade do século. Dentre essas migrações, destaque para dois subtipos: êxodo rural (campo para cidade) e pendular.


A) O Êxodo Rural


O êxodo rural ou migração campo-cidade é um dos mais importantes movimentos populacionais internos dos últimos tempos não somente no Brasil, como também em diversos países do mundo.


Para se ter uma idéia das proporções do êxodo rural no caso brasileiro, basta dizer que, no período 1950-2000, a população rural diminuiu de 64% para 19%, ou seja, o Brasil transformou-se de país essencialmente rural em país urbano. Observe a tabela a seguir, que mostra a população rural e urbana no Brasil, nesse período:




População rural e urbana no Brasil (1950-2000)





Em números absolutos, o contingente de brasileiros que vivem em cidades passou de cerca de 19 milhões em 1950 para quase 140 milhões em 2000, um aumento de sete vezes em poucas décadas.


Sem dúvida nenhuma, as cidades da região Sudeste do país (São Paulo e Rio de Janeiro, inicialmente, e em seguida, Belo Horizonte e outros centros industriais) foram as que mais receberam esse tipo de migrante. No entanto, tais cidades estavam despreparadas para receber esse grande número de pessoas, o que influenciou em diversos setores.


Por exemplo, os setores de atendimento às necessidades da população – escolas, hospitais, saneamento básico, moradias e empregos – não cresceram na mesma proporção das pessoas, o que transformou determinados espaços da cidade em um verdadeiro caos. Esses fatores levaram ao aumento do processo de favelização (favelas e cortiços), esgoto a céu aberto, ao aumento da violência e criminalidade, prostituição, subemprego e desemprego, dentre outros.


Essas metrópoles tornaram-se sinônimo de sofrimento e decepção para os migrantes que, hoje, cientes dos problemas urbanos e da impossibilidade de contorná-los, têm na volta para a casa o grande sonho, através da chamada migração de retorno.


Mas, quais as causas do êxodo rural? Por que as pessoas saíram do campo para a cidade?



Causas do Êxodo Rural


A industrialização é, sem dúvida, a principal causa do êxodo rural. O progresso gerado pela indústria faz com que as cidades exerçam grande atração sobre o homem do campo. Essa atração ocorre, basicamente, a partir da possibilidade de maiores oportunidades de melhoria de vida (emprego, profissões, etc.) e dos melhores serviços (assistência médica, saneamento, eletricidade, etc.) que a cidade oferece em relação ao campo. O problema é que muitas vezes as pessoas acabam vivendo em situações muito piores do que viviam no campo porque não conseguem acesso a todas essas questões.


Nem sempre porém, as pessoas abandonam o meio rural porque são atraídas pela cidade. Muitas vezes, ocorre o êxodo porque as pessoas são forçadas a abandonar o campo, ou seja, há causas repulsivas, que as expulsam. Por exemplo, mecanização do campo (substituição do trabalho humano por máquinas), causando desemprego; concentração das terras em mãos de uma minoria de proprietários; baixos salários; falta de escolas e de empregos; desastres naturais (secas, geadas, etc.); solos esgotados, etc.

Situação hipotética retratando o êxodo rural

Senhor Carlos agora é um morador da cidade grande. Ele foi para o Rio de Janeiro 35 anos atrás em busca de emprego e fugindo das péssimas condições de vida. Na zona rural de Caruaru (Pernambuco) não havia tratamento de esgoto, o hospital era muito longe e ainda por cima faltava água na maior parte do ano. Hoje senhor Carlos e sua família vivem na favela da Rocinha e parece que sua vida não melhorou tanto.

Série Migração: O fenômeno migratório no Brasil - Parte 1

A imigração para o Brasil


O Brasil é um país caracterizado, historicamente, pelo predomínio das imigrações, ou seja, da chegada de migrantes no país. Nosso país recebeu, ao longo do tempo, pessoas de cerca de 90 países, todos importantes para a formação de nossa cultura, sociedade e economia.


Destacam-se dentre os imigrantes os seguintes povos: portugueses, africanos, italianos, alemães e japoneses. Nas últimas décadas, migrantes de países vizinhos latino-americanos (Bolívia, Paraguai, Argentina) e também vindos da China e da Coréia do Sul chegaram ao Brasil em busca de oportunidades de trabalho em metrópoles como São Paulo.



A emigração de brasileiros


Especialmente nas duas últimas décadas, a emigração de brasileiros passou a merecer uma análise mais detalhada nos estudos sobre a nossa população.


Nos últimos tempos, não só a chegada de estrangeiros tornou-se menos significativa, como aumentou a quantidade de brasileiros que saíam em busca de melhores condições de vida e de trabalho em outros países. Estima-se que atualmente quase 2 milhões de brasileiros residem fora do pais, ou seja, são emigrantes.


Desse total, cerca de 1,5 milhão de pessoas emigraram oficialmente, ou seja, saíram do nosso país e se estabeleceram em outro, obedecendo às normas da legislação daquele país. Estima-se que outros 500 mil tenham realizado migrações não oficiais.


Esses emigrantes, que deixaram o país oficialmente ou não, se dirigiram para diferentes países, como Estados Unidos e Canadá (América do Norte), França, Itália, Portugal e Espanha (Europa), Japão (Ásia), Austrália (Oceania) e também aos países vizinhos latino-americanos (principalmente Argentina e Paraguai).

Série Migração: conceitos e tipos de movimentos migratórios

Todas as pessoas que realizam deslocamentos pelo espaço geográfico, sejam eles permanentes ou temporários, estão realizando uma migração e são chamados de migrantes.



Os movimentos migratórios podem se diferenciar segundo vários aspectos, dentre eles, o tempo de duração e o espaço de deslocamento .


As migrações definitivas, como o próprio nome indica, são aquelas que implicam num rompimento completo e definitivo com o país ou região de origem. Esse rompimento é difícil para o migrante que tem que enfrentar não só os problemas psicológicos e econômicos, como os de ordem cultural, uma vez que enfrentará condições de vida muito diferentes daquelas que vivenciou até o momento da migração.


Já as migrações temporárias acontecem quando os migrantes não pretendem se estabelecer definitivamente nos centros de atração, mas planejam o retorno ao ponto de origem quando as condições permitirem a volta às suas raízes.


As migrações podem ser classificadas também quanto ao espaço de deslocamento: migrações internas ou nacionais e migrações externas ou internacionais.


Quando o deslocamento humano ocorre de um país para outro, temos a migração externa ou internacional. Portanto, há a necessidade de se cruzar fronteiras entre países. Tal movimento tende a alterar a população total (absoluta) dos dois países.


Já a migração interna ou nacional é o deslocamento populacional que ocorre no interior dos países. Portanto, não há o cruzamento de fronteiras entre países. Nesse caso, não ocorre alteração do total de habitantes do país, mas altera o total de população das áreas envolvidas nesse deslocamento, que podem ser diferentes cidades ou estados.


OBSERVAÇÃO: A denominação FRONTEIRA se refere à delimitação que ocorre entre dois ou mais países diferentes (Brasil e Argentina, por exemplo); já a denominação DIVISA, se refere à delimitação entre dois ou mais estados (exemplo: MG e SP). Por fim, a denominação LIMITE, se refere à delimitação entre dois ou mais municípios, como Belo Horizonte e Contagem.


A saída da população de um local (cidade, estado, país, etc.) denomina-se emigração. Por outro lado, a chegada de população em um determinado lugar (cidade, estado, país, etc.) denomina-se imigração.


A pessoa que está se deslocando, por sua vez, é considerado emigrante, para o país de onde está saindo, e imigrante, para o país no qual está chegando.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Série Migrações

A partir de hoje, mais uma série aqui no Blog Geografia e Atualidades. Falaremos sobre as migrações. Então, vamos lá!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rio + 20

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, será realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 é assim conhecida porque marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.

O objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.

 

A Conferência terá dois temas principais:

  • A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza;
  • A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. 

A Rio+20 será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a III Reunião do Comitê Preparatório, no qual se reunirão representantes governamentais para negociações dos documentos a serem adotados na Conferência. Em seguida, entre 16  e 19 de junho, serão programados os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentávell. De 20 a 22 de junho, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das Nações Unidas.

Fonte: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20    



segunda-feira, 19 de março de 2012

Morre Aziz Ab´Saber

Um dos maiores geógrafos brasileiros morreu neste último fim de semana. Trata-se de Aziz Nacib Ab'Sáber. A geografia brasileira perde muito com esse acontecimento.


A seguir, a reportagem publicada no site do Jornal Folha de São Paulo sobre o assunto:



Morre Aziz Ab'Sáber, decano da geografia física no Brasil
16/03/2012 - 14h30

DE SÃO PAULO


Aziz Nacib Ab'Sáber, pesquisador da USP e um dos maiores especialistas em geografia física do país, bem como uma voz ativa nos debates sobre biodiversidade e preservação ambiental, morreu na manhã desta sexta-feira, às 10h20, em São Paulo. Ele tinha 87 anos.

A informação foi dada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), instituição que Ab'Sáber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.

Ab'Sáber morreu em casa. "Ele tomou café, sentou na cama e deu um suspiro. Morreu em seguida, foi fulminante", disse Nídia Nacib Pontuschka, irmã do geógrafo. Ela afirma que a causa da morte ainda não foi identificada, mas suspeita-se que tenha sido um infarto ou um derrame.


A SBPC confirmou que o corpo de Ab'Sáber será velado no Salão Nobre do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo), das 19h às 22h. O velório será reaberto amanhã a partir das 8h e o enterro será às 11h no Cemitério da Paz, no Morumbi.


Ab'Sáber nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924. Seu pai era libanês


Embora já estivesse aposentado, Ab'Sáber continuava publicando livros e sendo um observador arguto das controvérsias políticas envolvendo a questão ambiental.

Envolveu-se, por exemplo, com a discussão do novo Código Florestal, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares, nos últimos dois anos.


Segundo a SBPC, o geógrafo criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, deixando de lado a importância da diversidade de paisagens naturais no Brasil.


O estudioso também chegou a sugerir a criação de um Código da Biodiversidade para implementar a proteção a espécies da flora e da fauna.


Ab'Sáber deixa cinco filhos, seis netos e um bisneto.


LAUREADO


O site da SBPC traz uma extensa lista dos prêmios recebidos por Ab'Sáber ao longo da carreira. Destacam-se o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007), o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001), concedido pelas Nações Unidas.


REPERCUSSÃO


Segundo a presidente da SPBC, Helena Bonciani Nader, Ab'Sáber dava atenção especial aos estudantes e jovens pesquisadores.


"Ele era sempre ouvidos e se dedicava a todos, principalmente aos jovens. Conseguia transmitir para os estudantes a importância da ética e da moral como poucos. A gente brinca que ele era um aliciador de jovens para o saber. Perdemos um grande amigo e a ciência perde um batalhador, que sempre lutou por seus valores e pelo o que acreditava ser o melhor para o país."


Luiz Davidovich, membro da diretoria da ABC (Academia Brasileira de Ciências), diz ter recebido a notícia da morte de Ab'Sáber com grande pesar.


"Ele era um vulto da ciência nacional. Deu grandes e importantes contribuições para a geografia. Além disso, teve presenca marcante como cidadão, lutando sempre para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país."


Em nota, Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, afirmou que Ab'Sáber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. "Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia."


Ele disse ainda que Aziz era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum.


"Bom exemplo dessa característica de Aziz Ab'Saber foi seu posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, não para repetir clichês ou acentuar antagonismos, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade --avanço que um dia o Brasil certamente consolidará."


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enviou uma nota, por meio de seu instituto, lamentando a morte do geógrafo. Eles estiveram juntos nas Caravanas da Cidadania, viagens que Lula, membros do PT, além de especialistas de diversas áreas, fizeram pelo país nos anos 90.


"Aziz Ab'Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós. (...) Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos. Aziz deixará muita saudade, mas o conhecimento que ele transmitiu a todos nós continuará, com toda certeza, presente em nossas ações."


 http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1062853-morre-aziz-absaber-decano-da-geografia-fisica-no-brasil.shtml